:: Operador de Discos ::

O termo disc jockey ou operador de discos remonta a década de trinta, e sua principal função é selecionar músicas e tocá-las. Seu Osvaldo Pereira, o primeiro Dj brasileiro, começou a história da discotecagem brasileira com a simples ideia de não deixar a pista ficar parada. Nos bailes dos anos 60 movidos a orquestra, seu Osvaldo colocava vinis nos intervalos. Naquela época o vinil ou long play[LP] existia há pouco mais de dez anos. O que não existia era o mixer(mesa de mistura), uma peça fundamental para todo Dj, sem ele não é possível combinar o som de duas fontes de som para que não haja intervalo entre as músicas. Seu Osvaldo deu seu jeito usando dois toca-discos e um mixer improvisado. Fez isso porque achava que quebraria o ritmo das pessoas dançando no baile se tivessem que espera-lo trocar o vinil em um único toca-discos. A essência do Dj é essa, selecionar os discos em função do que o publico deseja e não deixar a festa parar.


Essa forma de discotecagem, dois toca-discos e um mixer, perduraram até o começo da década de noventa quando apareceu o compact-disc, o filho da puta do CD. O toca-discos mais popular é o Technics MKII SL-1200 e CD player mais conhecido foi o CDJ da Pionner. Digo que foi porque pouco tempo depois do advento do CD apareceu algo muito pior: o MP3. Os CDJs começaram a ler CD de MP3 e cada vez mais o case dos Djs foram encolhendo. De mochilas ou cases para os vinis, passaram para pequenos cases para CDs de áudio e finalmente para dentro dos computadores. Mesmo usando computadores é necessário usar o controlador, uma espécie de joystick com a aparência de dois CDJs e um mixer integrados. Os Djs ainda tinham o trabalho de mixar a música, sincronizar uma com a outra usando esses três tipos de mídia; vinil, CD e MP3. Esse tipo de mixagem provém da House Music criada nos primórdios dos anos 80 onde as batidas no compasso 4/4 (quatro por quatro) favoreciam a mixagem. Mas agora nem mixar o Dj precisa, o programa Traktor Dj já sincroniza a música, basta selecionar e pronto.

Leia o micro resumo da macro operação que é mixar com vinil. O estilo de mixagem é a sincronizada usada na maioria dos estilos na qual as músicas foram produzidas para tal. Existe uma regra básica para aqueles que produzem música eletrônica, são regras de compassos utilizados na introdução, intervalo e final. Sempre no compasso 4/4 e a cada 4, 8 ou 16 compassos há uma virada, remoção ou adição de efeito ou instrumentos que servem como ponto de referencia para mixagem.


Por veemência, pensemos que estamos à frente de dois toca-discos e uma mesa de mistura (mixer) e está tocando uma música e queremos colocar outra.

1. Selecione o disco da nova música, despoje-o e coloque-o no prato do toca-discos, selecione a música colocando a agulha próximo ao começo da faixa.

2. Através do fone de ouvido proveniente do mixer, escute a música que você vai tocar (apenas você estará escutando, essa e uma das funções do mixer) e ache o ponto inicial dela. Na maioria das vezes o primeiro som é um bumbo, o que facilita a marcação; marcar ou CUE nada mais é que manter o vinil parado neste ponto com seus dedos sobre o vinil, geralmente com o dedo mínimo, anelar e médio (no CDJ isso seria a mesma coisa que pressionar o botão CUE, ele memoriza o ponto).

3. Escute a música que está tocando e, quando houver uma virada na música (em geral na virada de quatro ou oito compassos), libere o vinil que estava segurando com a prévia marcação do bumbo (no CDJ basta precionar play, não existe atraso no play do CDJ como nos CD players convencionais, e se você errar basta apertar CUE que ele volta pra marcação enquanto no vinil é preciso repetir o segundo procedimento).

4. Case a velocidade da música que você está colocando com a que está tocando, sincroniza as duas músicas no mesmo BPM (Batidas Por Minuto). Use a barra do pitch; no toca-discos ela vai de +8 a -8 e no CDJ de +10 a -10 com uma vantagem de não alterar o tom da música. Você deve usar o dedo indicador e médio para adiantar ou atrasar o prato do toca-discos, e assim sincronizar as duas músicas, sempre atualizando a barra de pitch até que não seja mais necessários ajustes com dedo (no CDJ basta girar o Jog Dial para esquerda(-) ou direita(+), mas sempre atualizando a barra de pitch).

5. Ache uma virada no compasso apropriado próximo ao final da música que está tocando, libere o dedo ou pressione o play. Use o cross-fade na mesa de mistura (mixer) para fazer a passagem de uma música para outra.


Compare esse processo como o de fazer um pão: você mexe fisicamente com ingredientes, com o calor do forno ideal e com o tempo certo de tirá-lo de lá. Você já teve ter visto vendendo no Polishop uma panificadora, nela, basta colocar os ingredientes, apertar dois botões e esperar. Nos dois casos o pão pode ficar muito bom ou uma merda. Talvez a praticidade do Traktor crie novas formas de mixagem. Ao invés de mixar duas músicas, o Dj vai estar mixando oito, criando algo novo na frente da pista. Se o Dj for mixar apenas duas músicas no Traktor vai ter tempo de sobra, pois não precisa meter a mão na massa tendo tempo de ver o pão crescer.


A mixagem com vinil exige certas habilidades e concentração, é como ficar vendo o artesão escrever teu nome no grão de arroz. É bonito, é monogâmico, é cultural, é ultrapassado, é para poucos e vai continuar sendo. Existem formas baratas e caríssimas de ser Dj, a mais barata e acessível é usando CD de áudio, pois os aparelhos que leem apenas CD de áudio estão ultrapassados. No mesmo pé estão os que leem CD de MP3 e os toca-discos, muitas vezes a agulha é metade do preço do toca-discos. Lembrando que são sempre dois toca-discos ou dois CDJs, sem contar o mixer e um bom fone de ouvido. Para aproveitar o máximo do programa Traktor é preciso um maquinário que chega a custar o preço de um carro mil zero. Quem possui esse tipo de equipamento são os grandes Djs, muitas vezes cobaias dessas empresas, que tendem a virar garoto propaganda defendendo bandeiras como a do Traktor. Será que o Dj não vai mais precisar colocar os dedos no vinil pra mixar?