:: 1999 ::

Mil novecentos e noventa e nove. Um ano marcante na música eletrônica mundial, década do Big Beats, Trance, Techno, House e Drum’n’bass. Foi o período onde novos estilos surgiram e outros como Techno e House ressurgiram. Os noves discos que aqui serão comentados fazem o resumo dessa marcante época.
‘Profund Sounds Vol. 1’ o primeira da série de mixcds feitos por Josh Wink, o estilo na época era o Deep House que hoje quando escutado lembra Minimal. Como os equipamentos e a produção de música eletrônica eram novos, várias vertentes e nomes apareceram. A idéia que Josh Wink teve em lançar a série Profound Sounds segue até hoje no seu terceiro volume. A primeira versão do famoso software de edição de áudio digital havia sido lançado há quatro anos e Josh Wink usou desta tecnologia para criar o set do primeiro volume. No segundo volume ele admitiu e mostrou o processo no qual Profound Sounds é feito. Resumidamente, ele grava as músicas dos vinis para o computador nas quais ele pediu autorização para lançar, após isso ele edita e mixa as músicas com software de edição chamado Logic similar ao Pro Tools. Isso faz com que ele tenha um grande controle sobre o produto final criando um set perfeito e que na verdade deveria ser feito a mão [de MKII pra MKII]. É um set perfeito para o Dj Josh Wink que anos mais tarde a sonoridade e estilo do primeiro volume é a sonoridade do produtor Josh Wink. "20 to 20 lançado em 2005 tem como linha o que Wink resumiu no ‘Profound Sounds Vol. 1’.

‘Cassius 1999’ é o ápice da dulpa Cassius e da House Music nesta época. É literalmente o disco de mil novecentos e noventa e nove, uma obra prima que não foi e pode ser superada pela dupla. ‘15 Again’ foi lançado em 2006 e a sua maneira conseguiu estabelecer o novo tom para dulpa. ‘Cassius 1999’ foi algo tão estrondoso que o próprio conterrâneo Stuart David Price mais conhecido como Jacques Lu Cont e Les Rythmes Digitales com álbum ‘Darkdancer’ também lançado no mesmo ano,
não teve o devido ressalto. A capa do disco ‘Darkdancer’ foi a principal culpada por tal “fracasso”. Enquanto Cassius fez um encarte primoroso que amplificou todo o conceito do disco, Les Rythmes Digitales com a capa do disco ‘Darkdancer’ passou apenas a imagem básica da música eletrônica; fazer você dançar. Essa disparidade foi uma grande separador de águas para produtores e estilos.

O mesmo caminho que Cassius trilhou na questão de “estilizar” The Chemical Brothers vinha fazendo há anos. ‘Surrender’ também de 1999 trancou Big Beats na década de noventa e trouxe o Acid House como nova tendência, que foi muito bem aceita. ‘We Are The Night’, o último álbum e por que não a continuação do ‘Surrender’, reavivou o final desta década tão desfigurada. Quando ‘Surrender’ foi lançado renomearam como New Rave e esta nomenclatura foi levantada novamente com lançamento do ‘We Are The Night’. Uma dupla de música eletrônica que teve seu início no começo da década de noventa perdurar por tanto tempo e ainda ter seu conceito desgastado mantendo-se somente pelo próprio conceito é algo maravilhoso e ao mesmo tempo duvidoso. A década atual não consegue estipular, criar e reanimar qualquer estilo musical; está tudo estabilizado favorecendo as grandes gravadoras. Imagine que você investiu em um fundo de investimento chamado The Chemical Brothers, você ficaria ExtraDupaSupa feliz por estar lucrando a mais de quinze anos, mas a cada dois anos quando o fundo vence você passaria por momentos duvidosos e de ansiedade. Nesse exemplo você seria a Virgin Records distribuidora e principal alicerce para o estado atual da dupla The Chemical Brothers. A cada dois anos a dupla tem que lançar um álbum, para muitos o disco de dois mil e nove terá uma importância crucial ao futuro da dupla. Este começo de século é desorientado e sem tendência. Como uma onda no mar esta década nada mais é que a rebarbada de uma onda e assim o que resta é esperar por novas vertentes e inovações.

Basement Jaxx lançou o ‘Remedy’ em noventa e nove e não consegue ultrapassar o limite do primogênito álbum só mantém a vendagem e popularidade no nível aceitável. ‘Remedy’ trouxe uma nova tendência para House Music mais popular e fora dos padrões underground. ‘Remedy’ é um álbum realmente marcante - recebeu elogios de todos os seus compadres ingleses. Todos os estilos após esse ano fenomenal tiveram a tendência de seguir o underground. Com o fortalecimento de selos e as gravadoras começando a sofrer com Napster e o mp3, o início de século teve um divisor de águas, ou você é popular e vende, ou você é underground e vive do seu nicho. Um estilo que mais sofreu foi o Drum’n’Bass, que após o sucesso das produções de Roni Size e o clímax do Drum’n’Bass vendável ‘Ultra Obscene’ do Brackbeat Era. Este é outro álbum lançado em noventa e nove. O vocal de Leonie Laws e o refinado conceito de Roni Size na produção do disco o tornou vendável por ser algo novo e bem feito. Após essa face das gravadoras investirem nesses estilos emergentes o Drum’n’Bass declinou de forma a só se sustentar no underground e isso aconteceu com a maioria dos estilos. ‘Future 2000’ do Carl Cox foi um fiasco consideram o estilo a que servia, o Techno. Tais estilos como House e Techno se estabeleceram no underground e outros como Big Beats, Drum’n’Bass e IDM foram totalmente extintos. O IDM (Intelligent Dance Music) perdurou muito tempo pelo esforço dos próprios produtores, o que não foi suficiente para mantê-lo no main stream. Esta foi a prerrogativa deste “merchan” de começo de século, se não for vendável não é lançado. O álbum ‘Play’ do Moby quando lançado em noventa e nove recebeu a nomenclatura de Techno, isso só ajudou a distinguir Techno Pop do Underground. No Underground dicionarizável uma boa definição é “movimento de resistência”. Se pergunte quantos nomes de bandas ou duplas de música eletrônica você consegue lembrar, se o resultado for mais de vinte nomes, todos os nomes fazem parte do âmbito Popular[Pop]. ‘Window Licker’, do estranho Aphex Twin, lançado no ano maravilhoso de noventa e nove não perdurou muito durou entre três a quatro anos. Tais estilos não tiveram espaço nas gravadoras e distribuidoras tendo como fim o underground.

Em qualquer estilo de música no Underground a quantidade de músicas lançadas é muito grande, mas de difícil acesso, isto traz um diversificação e seleção onde não existe um preceito entre duas pessoas que escutam Techno, House, Minimal ou Drum’n’Bass. No ‘Popular’ todos escutam a mesma coisa deixando de aguçar o sentido pela música apenas a aceitando. Por estas e outras mil novecentos e noventa e nove foi um ano notável para música eletrônica que infelizmente foi o berço desta década. Assim como as décadas de cinqüenta, sessenta, setenta e oitenta foram para as bandas de rock e outros estilos musicais, os anos noventa foram para música eletrônica. A desilusão que estou tendo com esta década é a de quem viveu e espera viver novamente. Talvez nunca se repita, ou se repetir pode ser que eu não esteja com a cabeça de mil novecentos e noventa e nove.

Veja Josh Wink explicando processo de criação do Profound Sounds Vol.2.