:: A História do MASHUP ::


O gênero Mashup e a comunidade de fãs e produtores estão na vanguarda da música pop, tecnologia e direitos autorais. Avanços tecnológicos em hardware e software para edição de mídias digitais permitiram a criação do Mashup contemporâneo. Os avanços tecnológicos na Internet e na comunicação têm criado um novo espaço no qual a comunidade Mashup cresce. Produtores de Mashups, habilitados pela tecnologia estão remixando a música pop'ular e a cultura pop'ular. Ao fazê-lo eles desafiam a ideia de um trabalho concluído. Nenhuma gravação é um produto acabado, é a fonte de material com o qual cria-se algo novo. Usar o trabalho de outros como fonte de material colocou a comunidade do Mashup em desacordo com a lei do direito autoral vigente mantendo o gênero fora do mainstream. A “legalidade marginal” obrigou a comunidade do Mashup a ser autossuficiente na produção, distribuição e promoção de suas músicas. Os produtores de Mashups estão na vanguarda de um movimento maior em que os consumidores se tornam produtores que remodelam e remixam a cultura ao seu redor.
:: MASHUP :: Lincoln e Boba Fett. Artista desconhecido ::
Pela evolução da história da música pop é mais fácil traçar a história do Mashup. Há um consenso dentro da comunidade Mashup e na literatura acadêmica que Mashup é uma continuidade do remix. Remix é um termo genérico que engloba todos os tipos de música que tem suas gravações originais alteradas para criar novas versões. Samplear é uma das várias técnicas usadas na remixagem e o Mashup é uma das muitas formas e gêneros de remixes.

O remix tem a gravação original como fonte de material, não como produto acabado. Remixagem estende-se além da gravação finalizada seja áudio, vídeo, fotos, essencialmente qualquer mídia pode ser remixada, especialmente se digital. Há um forte consenso na comunidade científica de que a remixagem tem suas raízes na Jamaica (Brewster e Broughton 1999, Levay 2005; Stolzoff 2000). No início dos anos 1950, DJs(disc jockeys) jamaicanos foram construindo playlist com base no tempo da música, ritmo, artista, tema... Este estilo de performance foi posteriormente refinada por DJs de Disco e reinventado pelos DJs de hip-hop.

O termo Mashup é recente. De acordo com o dicionário de inglês Oxford "mashup", ou "mash-up", foi usado pela primeira vez para descrever a música criada pela mistura de duas ou mais músicas gravadas em 2000 (Dicionário de Inglês Oxford Online 2009). Os fatores delimitantes da contemporaneidade do Mashup são o uso quase exclusivo de samples (amostra de áudio) de fontes já gravadas, consiste de fontes predominantemente musicais, é concebido como uma nova canção e inserido e reconhecido em algum estilo musical e feito com programas de edição de áudio e maquinário digital. Usando os argumentos acima como critério, o gênero Mashup contemporânea surgiu na Inglaterra em 2000-2001. Na época Mashups eram conhecidos principalmente como Bootlegs ou Pop Bastard. O termo Pop Bastard, uma referência ao Mashup ser o filho ilegítimo de duas canções Pops, não é mais utilizado. O termo Bootleg, contrabandista, ainda é usado dentro da comunidade e pelos meios de comunicação, especialmente na Inglaterra. A palavra "Mashup" (ou "mash-up") ganhou popularidade quando o se espalhou nos Estados Unidos durante 2002-2003. Nos EUA, o termo "Bootleg" já estava firmemente associado com cópias ilegais de música e filmes, bem como gravações não autorizadas de concertos ao vivo ou sessões de estúdio, e assim "Mashup" foi favorecido por sua especificidade.

Mashup é um tipo específico de remix que se distingue por várias qualidades. Raramente um criador de Mashup adiciona qualquer material novo. Em vez disso usa-se somente material sampleado. Devido a esta dependência do sample, a maior parte do impacto pretendido de um Mashup depende da capacidade do ouvinte em reconhecer os samples utilizados. Isso está em contraste com a música baseada em sample, onde os samples são disfarçados não tendo nenhuma intenção de serem reconhecidos. Além disso, o comprimento dos samples usados em um Mashup tendem a ser muito mais longos do que é usado em muitos outros tipos de músicas baseadas em samples. Ao invés de desconstruir o sample em uma fração de segundo de material sonoro, um produtor de Mashup utiliza normalmente longos samples, até mesmo toda a canção.

Mashups começou a ganhar a atenção fora da Inglaterra devido à Internet. O mashapeiro Freelance Hellraiser em 2001 criou o Mashup "A Stroke of Genie-us", combinando "Genie in a Bottle" de Christina Aguilera com a música "Hard to Explain" do The Stroke. Foi o primeiro Mashup a ganhar a atenção da imprensa fora da Inglaterra. A imensa popularidade de "Stroke of Genie-us" foi facilitada pelo site Boomselection e a grande audiência internacional que pode acessar o Mashup através da Internet. Depois de 2001 o cenário continuou a crescer na Internet, bem como em casas noturnas. Em San Francisco, em agosto de 2003, o DJ Adrian e The Mysterious D começaram a Bootie, a primeira festa de Mashup nos Estados Unidos (o nome foi uma homenagem às raízes britânicas de Mashups/Bootlegs). A popularidade de Bootie continua até hoje. Existem noites regulares da festa Bootie em San Francisco, Los Angeles, Portland, Seattle, Nova York, Boston, Paris, Munique, Berlim, Brisbane, Rio de Janeiro bem como uma noite regular no Second Life, e anualmente no festival Burning Man.
 
:: The Chemical Brothers - Chemical Beats + Pulp Fiction + Jim Morrison [Victor Hugo Mafra MASHUP] (2000)  ::

Com o estabelecimento da cena Mashup na Inglaterra em novembro de 2001, o blog Boomselection.info foi criado. Boomselection foi o primeiro blog focado em Mashups, de acordo com muitos na comunidade Mashup, o primeiro blog de MP3 de qualquer tipo na Internet. No Boomselection links de download diretos para Mashups eram publicados. Os Mashups só podiam ser encontrados em redes ponto a ponto de compartilhamento de arquivos como o Napster, mas não havia local central para fazer download de Mashups disponíveis como site Soundcloud. Pouco depois de Boomselection.info foi criado outro lugar para encontrar e baixar Mashups, o mashapeiro Grant McSleazy criou o fórum on-line Get Your Bootleg On (GYBO). GYBO encerrou suas atividades em 2012.

Mashup atingiu novos patamares de popularidade na imprensa em 2004 com o lançamento do disco The Grey Album do DJ Danger Mouse. Danger Mouse combinou o White Album dos Beatles com o Black Album de Jay-Z. O álbum foi aclamado pela crítica, mas grande parte da atenção que o álbum recebeu foi devido à controvérsia em torno do direito autoral. Danger Mouse não pode licenciar qualquer sample que ele usou (ele vendeu pequeno número de CDs e em seguida lançou o álbum de graça na Internet), e vários sites que hospedavam o álbum para download foram forçados a não mais fazer. Em resposta, inúmeros sites participaram do protesto Terça-feira Cinzenta em 24 de fevereiro de 2004. Os sites envolvidos coletivamente desobedeceram e disponibilizaram o The Grey Album para download ilegal por um período de 24 hora. O protesto on-line foi amplamente coberto pela imprensa. O The Grey Album é uma parte importante da história do Mashup porque expôs o Mashup para milhares de pessoas e serviu para destacar questões importantes sobre a relação da comunidade Mashup com o direito de autoral.

A popularidade do gênero continuou a crescer e em outubro de 2009 a Activision lançou o jogo DJ Hero, um jogo de vídeo game em que o jogador cria Mashups. O jogo segue o mesmo conceito que a popular franquia do Guitar Hero para bandas de Rock, mas ao invés de um joystick em forma de guitarra o jogador controla o jogo através de joystick em forma de vitrola e mesa misturadora. Os samples das músicas para o jogo são de canções de grande artistas do mainstream.Além de um jogo de vídeo de grande orçamento, o gênero tem agora uma estrela no mainstream, Girl Talk. Apesar de usar centenas de samples não declarados, Girl Talk lança seus Mashups através da gravadora Illegal Art. Ele se tornou um artista de sucesso em turnê integral e é celebridade nos Estados Unidos. Girl Talk é regularmente destaque na imprensa e foi o foco de documentário Boa Copia o Má Copia (2007) e RIP: A Remix Manifesto (2009).
Este artigo foi escrito em 2010 por Liam McGranahae. Mashupisticamente traduzido e mutilado para este blog e Fanzine Tralha Malocada.

Mashup Cartola - Minha + Tropkillaz - Hotdamn! [Victor Hugo Mafra MASHUP].




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McGranahae, Liam. Bastards and Booties: Production, Copyright, and the Mashup Community. Acessado 11 de Abril de 2013. http://www.sibetrans.com/trans/a13/bastards-and-booties-production-copyright-and-the-mashup-community


:: MAsHuP eu, maSh Tu ::

Ao viés e revés com papo de Mashup, eis a conclusão.

Mas antes passarei a língua na epopéia para esclarecimento do conflito e gozo da conclusão. Com toda essa antropofagia cultural acontecendo, de Bansky a Girl Talk e de Maria a José, todo um ano de textos sobre Mashup foram publicados no Tralha Malocada Fanzine, sessões do CineClube Taberna sobre o assunto, e até um workshop chamado Mashup.ada realizado. Definir Mashup para década passada, a 00’s, é como definir Grunge para a década de noventa: uma singela ilusão. Reconhecer todos os fatores que tornaram o Mashup viável desde a tecnologia e material pra reciclagem ao destroçamento da inovação, mas não da criação.
Philippe Petremant

Natural consequência evolutiva da criação, do baião, do tropicalismo, do manguebeat ao manifesto antropofágico da década de vinte, o Mashup (mescla, mistura, re-antropofagia) é inevitável. O que permite a atual exteriorização exacerbada do eu, ser criativo, acontece pela fácil capacidade de criação. Ferramentas para fazer Mashup não faltam e está cada vez mais fácil e rápido manipulá-las. Material pra Mashupear não falta, pois a cultura já oxidou bastante; perdão pelo ‘oxidou’, é ocidentalizou e o individuo transborda de tanto ‘eu’.

Mashup como uma técnica de RE(ao quadrado)BULIÇO nas artes plásticas atiçada pelo digitalismo. A perda de aglomerados dos movimentos culturais pela capacidade de cada indivíduo fazer a sua cultura revestida da gordura do ego. Juntar o Chico que a mãe ouvia e Jobim do pai pra criar o seu Tom. Pendurada na parede do quarto a famosa foto do Che com a sutileza do charuto do Fidel entre o lábios, oh che! Misturas casam e descasam e até largam a mão do pós e preconceito. Os ‘Res’ do Gilberto Gil com Refazenda, Refavela e Realce quando misturados com outros artistas em um Mashup não estarão sendo Refeitos, e sim Readaptados ao léu do seu recriador. O Mashup.eiro é como um copo de liquidificador onde mistura a cultura, influências com doses de ego que no fim acaba sendo consumido pelo próprio, auto-antropofagia.

Desejo pontuar Mashup como movimento cultural do começo do século vinte um, porém Mashup é apenas uma técnica de mixagem, colagem, antropofagia, control C e control V. O embaraço cultural onde cada um é um filtro do RE-regurgitar.


Cativando Mashup desde 1999 sem ter a noção, já misturava as falas do filme Pulp Fiction com a música Chemical Beats do Pai The Chemical Brothers. Esse primeiro Mashup foi feito com um simples programa de edição de áudio onde aprendi a samplear (criar o sample arquivo digital de áudio).

Atualmente “reciclo” as músicas que meus pais escutaram, irmãs e meus amigos, quando não peço nomes de música a pessoas ao lêu. A lista de artistas brasileiros Mashupados que você pode baixar no soundcloud.com/victorhugomafra vai de Tom Zé, Chico Buarque, Criolo, João Donato, Davi Moares, Novos Baianos, Elomar, Alceu Valença, Nação Zumbi, Dj Dolores e Orquestra Armorial misturados com Beck, The Chemical Brothers, Daft Punk, Frank Sinatra, Massive Attack, Plastikman e outra penka de samples.

:: Os peitinho da música eletrônica ::

 Os franceses do Daft Punk começaram a tirar um som com um sequenciador MMT-8 da Alessi, um sintetizador Mini-Mooge e um sampler da Akai. Os ingleses do The Chemical Brothers criaram o estilo Big Beats sampleando batidas e arregaçando na MPC da Akai. A música eletrônica tem olho puxado, peitinhos pequenos e cabelo preto liso. Roland e Akai ambas do Japão, uma fabricante de sintetizadores e bateria eletrônica, e a outra do sampler e sua mais famosa série de sampler, a MPC (nos primórdios conhecida como MIDI Production Center e agora Music Production Controller).

A batida do funk carioca dos anos oitenta e noventa, a famosa batida do Jack Matador, foi criada por um americano utilizando a bateria Roland TR-808, mãe do Miami Bass. De Miami para o Rio de Janeiro a batida chegou através do sample (sample sem ‘r’ no final é o arquivo digital, e com ‘r’ no final é o aparelho onde são carregados os arquivos digitais). As famosas Montagens do Funk carioca, como a dos 13 Piratas, Mini Game entre outras foram criadas com o sample dessa batida e o samples criados pelos Djs brasileiros principalmente Adriano DJ.
Street art - Japanese girl de Stijn Hosdez

Os equipamentos eletrônicos como sintetizadores e baterias eletrônicas, cada uma com seu timbre característico, começaram a ser rasgadamente utilizados entre a troca do bastão dos anos setenta e oitenta. A House Music e Techno surgiram com a bateria eletrônica Roland TR-909. Lançada em 1984 com timbre que sobrevive até hoje e com sua rigorosa capacidade de produzir batidas principalmente no tempo 4/4. A Disco Music, os olhos e cabelos da morena na década de setenta foi mesclada com essa rigorosa batida 4/4 por um sujeito em Chicago que colocava vinis de Disco pra tocar e acompanhava com a TR-909 e seus tums-tums-tums-tums. Pra produzir House Music atualmente você precisa de um vocal afinado cantando um Soul ou Rythm’n Blues com um sorrateiro bate estaca e um bom agudo no contra tempo. Tirando os vocais, o bounce, o boogieoogie desse House, aumentando a velocidade da batida e adicionando a dureza de um sintetizador sem muita modulação harmônica, tipo conhaque Dreher, você tem o Techno. Usando um sequenciador/sintetizador, outra peça famosa, a TB-303 também da Roland, você tem o ACID (AcidHouse, Acid Techno). Por ser um sintetizador de Baixo, alternando alguns botões se cria um agradabilíssimo para um ser que está ACID.ificado.
303 by James Enox

Nomenclaturas à parte, fica fácil de reconhecer uma feijoada por saber que ela é feita de feijão, mas se nesse mundo existe alguém que não saiba o que é feijão, não vai reconhecer a feijoada. Chegando ao ponto aos goles de uma caipirinha; música eletrônica é baseada em aparelhos eletrônicos, cada um com sua característica, funcionalidade e principalmente timbres. Reconhecendo cada um deles você sabe se precisa de mais cachaça ou açúcar na sua caipirinha, sacaneando, você reconhece o estilo musicais e suas inúmeras nomenclaturas.